segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Artigo da pós-graduação (continuação)

INTRODUÇÃO

O processo de aprendizagem pode ser definido de forma sintética como o modo como os seres adquirem novos conhecimentos, desenvolvem competências e mudam o comportamento, utilizando sua inteligência cognitiva e emocional. Mas para que seja efetivo, faz-se necessário um processo interativo no meio em que está inserido: família, escola e sociedade. As funções intelectuais vão adquirindo importância progressiva como forma de interação com o meio. Da atividade intelectual, que tem a linguagem como um instrumento indispensável, depende o coletivo. Permitindo acesso à linguagem, podemos dizer que a emoção está na origem da atividade intelectual. Pelas interações sociais que propicia, as emoções possibilitam o acesso ao universo simbólico da cultura (TAILLE, 1992).
Em Piaget, a criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo o momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas.  Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida (ZACHARIAS, 2008).
Piaget considera ainda que o processo de desenvolvimento é influenciado por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implica na formação de hábitos), aprendizagem social (aquisição  de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de auto-regulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido) (ZACHARIAS, 2008).
Assim como Piaget, Vygotsky também assevera que as relações experimentadas propiciam a aprendizagem, ou seja, a construção de conhecimentos que vão permitir o desenvolvimento mental, uma vez que a criança nasce dotada de apenas funções psicológicas elementares (reflexos e atenção involuntária, própria de animais desenvolvidos).  No entanto, tais funções transformam-se em superiores (como a consciência, planejamento e deliberação, características exclusivas do homem). Essa evolução decorre da elaboração das informações recebidas do meio, de forma implícita ou explícita, pelas pessoas que rodeiam a criança (OLIVEIRA, 1995).
Ainda de acordo com as concepções vygotskynianas, a lembrança de elementos mediadores irá formar a representação mental, que ao longo do desenvolvimento do indivíduo predominarão nas relações diretas, principalmente nas que ocorrerão no âmbito escolar, uma vez é que nesse ambiente é que acontecerá a mediação entre o sujeito e o conhecimento sistematizado. É na escola onde podemos, de maneira mais sistemática e orientada, aprender a ler o mundo e a interagir com ele. Ler o mundo significa poder entender e interpretar o funcionamento da natureza e as interações dos homens com ela e dos homens entre si. A escola é o lugar onde o conhecimento sistematizado é apresentado, devendo ser, portanto, o lugar em que possamos praticar a leitura do mundo, interagir com ele de maneira orientada, crítica e sistemática (GIASSI, 2007).
Desse modo, é necessário que a escola conheça o nível de desenvolvimento de seus alunos e dirija o ensino não para etapas intelectuais já alcançadas, nem para aquelas muito aquém da compreensão das crianças, mas sim para estágios de desenvolvimento coerentes. O processo de ensino-aprendizado na escola deve ser construído, então, tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança e como ponto de chegada os objetivos estabelecidos pelo estabelecimento de ensino, supostamente adequados à faixa etária e ao nível de conhecimentos e habilidades de cada grupo de crianças. O percurso a ser seguido nesse processo estará balizado também pelas possibilidades das crianças, isto é, pelo seu nível de desenvolvimento potencial (OLIVEIRA, 1988).
            No entanto, o processo de aprendizagem não é algo linear. Neste percurso podem ocorrer inúmeras barreiras ou dificuldades. Elas são decorrentes basicamente de aspectos naturais ou secundários. São passíveis de mudanças através de recursos de adequação ambiental. As dificuldades de aprendizagem decorrentes de aspectos secundários são ocasionadas por alterações estruturais, mentais, emocionais ou neurológicas, que repercutem nos processos de aquisição, construção e desenvolvimento das funções cognitivas (FUNAYAMA, 2000).
Para haver aprendizagem adequada, segundo Funayama (2000), as bases neurológicas devem ser íntegras. Porém, a integridade do sistema nervoso encontra-se ameaçada em todo o momento, pois enquanto ocorre a maturação, normalmente há vida e morte neuronal em um contínuo equilíbrio morfológico e funcional. Este equilíbrio, diz a autora, pode estar ameaçado desde o seu início por alterações prévias no código genético, ou por influências externas, como o meio ambiente, família, escola e sociedade.
Em um plano geral de funcionamento, o sistema nervoso recebe o estímulo (visual, auditivo, tátil, olfativo, gustativo) e o transmite, analisa, armazena e, associando-o a outros estímulos armazenados. Pode planejar uma resposta e agir. Para Funayama, cada momento destes é único em cada ser, pois a complexidade de sua formação faz transformar tudo que nele chegue. Desse modo, cada ser tem uma individualidade, portanto uma forma particular de aprendizagem e cabe ao professor despertar o aluno, a fim de atraí-lo ao conhecimento, ou seja, lhe oferecer as chamadas janelas de oportunidades (Chamat, 2004), que são os momentos mais propícios de estimulação do cérebro para que assimile informações de determinada natureza (SAMARA, 1998).
Quando há barreiras ou dificuldades que atrapalham o processo de ensino e aprendizagem, acontece nas salas de aula situações como a que será retratada no presente estudo de caso, em que o sujeito envolvido demonstrou maiores barreiras exatamente no que concerne ao desenvolvimento interpessoal, à interação com o meio que o cerca, do que propriamente ao que se refere ao cognitivo. Tímido, retraído, demonstrando pouco interesse em interagir, L. deixa de desenvolver suas potencialidades, uma vez que “a aprendizagem, é o processo pelo qual o indivíduo adquire informações, habilidades, atitudes e valor a partir do seu contato com a realidade, o meio ambiente e outras pessoas” (OLIVEIRA, 1995).

OBJETIVO

O presente trabalho objetiva relacionar a superação de barreiras que prejudicam a aprendizagem em leitura e escrita, por meio das chamadas janelas de oportunidades.

METODOLOGIA

A criança acompanhada neste estudo, que chamaremos de L., tinha sete anos e estava cursando o 2º ano do ensino fundamental. Um pouco retraído, aparentava sempre estar cansado, mesmo assim realizava o lhe era solicitado sem reclamar. Esforçava-se para realizar com êxito as atividades propostas, especialmente para conseguir aprender a ler, sua principal dificuldade observada. Não gostava de ir à escola, teve dificuldade de adaptação no ano anterior, seu primeiro no ensino regular e não se adaptou à creche quando bebê.
Os procedimentos aplicados em nove encontros, além da anamnese para coletar dados de desenvolvimento e da observação natural da criança em sala de aula, em aula de Educação Física, no reforço escolar e na hora do recreio, foram os seguintes:
a)                  Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (E. O. C. A), que torna possível detectar sintomas dos quais emergem as dificuldades de aprendizagem e auxilia o profissional a delinear seu objeto focal (Visca, 1987), por meio da exploração, pela criança, de uma caixa com materiais como folhas sulfite e pautada, papel cartão em quadrados 10x10, caneta esferográfica, lápis preto de escrever sem ponta, borracha, apontador, marcadores, cola, tesoura, livros e revistas.
b)                  Pareja Educativa, uma técnica desenvolvida na Argentina, amplamente utilizada nas questões pertinentes às questões professor, aluno e conhecimento, adaptada por Chamat (2004) para ser aplicada a sujeitos a idades não inferior as seis anos até a idade adulta.
c)                  Hora do Jogo, que se constitui numa técnica desenvolvida por Pain (1985): uma atividade lúdica que inclui três aspectos da função semiótica (função responsável pela internalização de significantes e significados), sendo eles o jogo, a imitação e a linguagem.
d)                  Avaliações pedagógicas de Língua Portuguesa e Matemática, com a finalidade de diagnosticar o nível de aprendizado real em que L. se encontrava a fim de delinear o plano de ação voltado à abertura das chamadas janelas de oportunidade.
                    Intervenções psicopedagógicas: centraram-se na leitura. Foram elaboradas aulas para lhe proporcionar a familiarização com as letras, sílabas, palavras e textos, enfocando-se o som representado pelas formas gráficas para a devida associação nas sílabas, palavras, frases e textos. Trabalhou-se em consonância com os conteúdos oferecidos pela escola para esta etapa da educação, no entanto, buscou-se materiais diferenciados dos utilizados no dia-a-dia. Foi elaborado um plano para cada aula, não obstante o objetivo das mesmas serem sempre idênticos: a aprendizagem da leitura.

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