quinta-feira, 5 de maio de 2011

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Gene alterado torna mosca homossexual

Mudança em "edição" de seqüência de DNA em experimento fez fêmeas se comportarem como machos e vice-versa

Elisabeth Rosenthal escreve para "The International Herald Tribune":

Quando a mosca geneticamente modificada foi solta e começou a voar na câmara de observação, fez o que qualquer galanteador faria: perseguiu uma fêmea virgem.

Tocou a moça gentilmente com sua pata, cantou uma canção (usando as asas como instrumentos) e só então ousou lamber a genitália dela.

Os cientistas viram tudo aquilo incrédulos: o "galã", na verdade, era uma fêmea.

O inseto "homossexual", na verdade, tinha recebido artificialmente a versão de um gene exclusiva dos machos.

Esse único trecho de DNA, afirma um estudo publicado na edição de ontem do periódico científico "Cell" (http://www.cell.com), seria aparentemente capaz de criar os padrões de comportamento sexual.

Numa série de experimentos, os pesquisadores descobriram que as fêmeas que recebem a variante masculina do gene agem exatamente como machos durante o acasalamento.

Já os machos que ganharam a versão feminina ficaram mais passivos e passaram a se interessar por outros machos.

"Mostramos que um único gene da mosca-das-frutas é suficiente para determinar todos os aspectos de comportamento e orientação sexual", disse o autor principal do estudo, Barry Dickson, do Instituto de Biotecnologia Molecular da Academia Austríaca de Ciências, em Viena.

"Isso sugere que comportamentos instintivos podem ser especificados por programas genéticos, assim como acontece com o desenvolvimento de um órgão ou de um nariz".

Os resultados devem influenciar os debates sobre o poder dos genes e do ambiente para determinar o que as pessoas são, como agem e, especialmente, como desenvolvem sua orientação sexual.

Especialistas se disseram impressionados e chocados com as descobertas. "Os resultados são tão claros que todo o campo das raízes genéticas do comportamento vai avançar de modo tremendo", disse Michael Weiss, da Universidade Case Western Reserve, em Ohio, nos EUA.

"Espero que ele tire a discussão sobre preferências sexuais da esfera da moralidade e a leve para a da ciência. Nunca escolhi ser heterossexual: simplesmente aconteceu. Mas os humanos são complicados. Com as moscas, podemos ver de forma simples e elegante como um gene influencia e determina o comportamento."

Os cientistas sabem há anos que o gene estudado, conhecido como "fruitless" ou "fru", é central para o acasalamento, coordenando uma rede de neurônios (células nervosas) que estão envolvidos no ritual de corte dos machos.

Na verdade, tanto machos quanto fêmeas possuem o mesmo gene.

Contudo, ao ser transcrito para mRNA (RNA mensageiro, a molécula que faz a ponte entre os genes e a fabricação das proteínas que eles representam), o gene é "editado" de forma diferente dependendo do sexo.

Todos os pesquisadores alertaram que os comportamentos inatos também podem ser modificados pela experiência. Machos rejeitados pelas fêmeas, por exemplo, tornam-se menos afoitos em seus avanços sexuais.

(Folha de SP, 4/6)

Jornal da Ciência- SBPC


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